em 1983, ou 84 ou 5, a orquestra sinfônica do estado se apresentava na rua são joaquim, na liberdade. estava no toco: o fagotista ficava ao lado de um balde, por conta da goteira. o diretor artístico (e "regente titular") era o júlio medalha, em seu mais profundo desconsolo artístico e administrativo. num corcerto lancinante, radamés gnatalli seria (leia bem, seria...)homenageado por seus oitenta (ou setenta) anos. a primeira parte do concerto era um de seus concertos para piano, onde foi o solista. afora a gambiara geral da osesp, foi tudo lindo - pois não há viva alma que não tenha uma coisinha qualquer que não goste do radamés. a tristeza veio no intervalo: a homenagem era acompanhada por um título honorífico (mistura de honorário com odorico) de 'cidadão paulistano'. quem? brasil vita, honorário (ai sim) filho da puta, crápula, homicída, scroque. até então, também comprensível. mas: durante a homenagem daquele bosta do brasil vita ("quatro vezes vinte, um eterno jovem...tira do bolso suas melodias...), radamés, nosso herói, leva a mão para o rosto e chora. Todo público entendeu seu choro, afinal, era reconhecimento etc e tal. mas, pelo brasil vita?? o constrangimento do julio medalha era patente e do publico também. radamés ficar emocionado pela homenagem daquele tipinho odioso? a segunda parte do programa foi beethoven e ninguém mais queria ouvir aquela orquestra.
sigmund freud foi um pai zeloso e um trabalhador diligente. Todo o dia, mais ou menos ao meio dia, almoçava com toda sua família. trabalhava oito horas por dia no consultória e, só depois, sentava em sua escrivaninha para escrever. Toda tarde passeava com seus filhos pela pequena viena, e tomavam sorvete. todos os anos, no verão, iam para as montanhas (como os deustchlands gostam de deustchland's)gozar férias. Não permitiu que nenhum de seus filhos seguisse sua carreira (um foi militar, outro engenheiro). (só a mais nova, ana, que adorava o pai, virou analista). Seu primeiro livro, escreveu aos quarenta anos. sofreu estóicamente com um cancêr e, mesmo no auge de sua doença, clinicava oito horas por dia. durante a primeira guerra, clinicava a troco de batatas, literalmente. suas duas irmão, com sessenta e setenta anos morreram em campos de concentração. foi convidado a ir para os eua, pelo goldmayer (o do cinema) mas recusou: 'nos eua a análise vai ser um apêndice da psiquiatria'. incentivava seus pacientes a ser analistas, independente da profissão - o que persiste até hoje. e, acredite, tem quem o chame de 'velho tarado'.
tenho um amigo que se chama Xandão. o nome dá o tipo de gente que ele é. péssimo, mal carater, cafajeste, bicho de nojo. sua mãe, Marly, que tomo umas no bar do lago (o bar dos patos)- que a gente chama de marta suplicy, que é a cara - um dia contou os designos maternos: estava puta com o xandão, que só apronta [e tem 45 anos]. ela iria dar uma pisa naquele vagabundo. chega ele bebado - ela esperando - de madrugada, nem repara, e sobe para o quarto. ela vai atrás, pra falar um monte. cheia de raiva, vê aquele merda deitado na cama, de roupa, esculhambado, suando e roncando. Não tem dúvida: liga o ventilador pro filhinho, e desce silenciosa para ver tv. mães...
p.s - passar fome qualquer um faz. ficar sem escrever é pura ingratidão com as palavras. (escrever a noite é melhor: tem mais palavras, porque poucos estão usando)
6 comentários:
ha uma gota de sangue em cada poema. quem escreveu isso, mesmo?
ah, foi mario de andrade. gente boa.
rcrônicas de uma vida injusta
em 1983, ou 84 ou 5, a orquestra sinfônica do estado se apresentava na rua são joaquim, na liberdade. estava no toco: o fagotista ficava ao lado de um balde, por conta da goteira. o diretor artístico (e "regente titular") era o júlio medalha, em seu mais profundo desconsolo artístico e administrativo. num corcerto lancinante, radamés gnatalli seria (leia bem, seria...)homenageado por seus oitenta (ou setenta) anos. a primeira parte do concerto era um de seus concertos para piano, onde foi o solista. afora a gambiara geral da osesp, foi tudo lindo - pois não há viva alma que não tenha uma coisinha qualquer que não goste do radamés. a tristeza veio no intervalo: a homenagem era acompanhada por um título honorífico (mistura de honorário com odorico) de 'cidadão paulistano'. quem? brasil vita, honorário (ai sim) filho da puta, crápula, homicída, scroque. até então, também comprensível. mas: durante a homenagem daquele bosta do brasil vita ("quatro vezes vinte, um eterno jovem...tira do bolso suas melodias...), radamés, nosso herói, leva a mão para o rosto e chora. Todo público entendeu seu choro, afinal, era reconhecimento etc e tal. mas, pelo brasil vita?? o constrangimento do julio medalha era patente e do publico também. radamés ficar emocionado pela homenagem daquele tipinho odioso?
a segunda parte do programa foi beethoven e ninguém mais queria ouvir aquela orquestra.
crônicas de uma vida injusta
sigmund freud foi um pai zeloso e um trabalhador diligente. Todo o dia, mais ou menos ao meio dia, almoçava com toda sua família. trabalhava oito horas por dia no consultória e, só depois, sentava em sua escrivaninha para escrever. Toda tarde passeava com seus filhos pela pequena viena, e tomavam sorvete. todos os anos, no verão, iam para as montanhas (como os deustchlands gostam de deustchland's)gozar férias. Não permitiu que nenhum de seus filhos seguisse sua carreira (um foi militar, outro engenheiro). (só a mais nova, ana, que adorava o pai, virou analista). Seu primeiro livro, escreveu aos quarenta anos. sofreu estóicamente com um cancêr e, mesmo no auge de sua doença, clinicava oito horas por dia. durante a primeira guerra, clinicava a troco de batatas, literalmente. suas duas irmão, com sessenta e setenta anos morreram em campos de concentração.
foi convidado a ir para os eua, pelo goldmayer (o do cinema) mas recusou: 'nos eua a análise vai ser um apêndice da psiquiatria'. incentivava seus pacientes a ser analistas, independente da profissão - o que persiste até hoje.
e, acredite, tem quem o chame de 'velho tarado'.
tenho um amigo que se chama Xandão. o nome dá o tipo de gente que ele é. péssimo, mal carater, cafajeste, bicho de nojo. sua mãe, Marly, que tomo umas no bar do lago (o bar dos patos)- que a gente chama de marta suplicy, que é a cara - um dia contou os designos maternos: estava puta com o xandão, que só apronta [e tem 45 anos]. ela iria dar uma pisa naquele vagabundo. chega ele bebado - ela esperando - de madrugada, nem repara, e sobe para o quarto. ela vai atrás, pra falar um monte. cheia de raiva, vê aquele merda deitado na cama, de roupa, esculhambado, suando e roncando. Não tem dúvida: liga o ventilador pro filhinho, e desce silenciosa para ver tv.
mães...
p.s - passar fome qualquer um faz. ficar sem escrever é pura ingratidão com as palavras.
(escrever a noite é melhor: tem mais palavras, porque poucos estão usando)
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