sexta-feira, 20 de março de 2009

paz

ia fazer café a mancha borrada na parede dia de atelier meus filhos amanhã você não vai preparar tudo minha filha? não aquela mancha de café na parede. ficou. o café acabou. mas eu bebí daquilo eu precisava da desordem da minha sujeira. então fui ao chá, mate que é pra compensar a falta de cafeína e dizem mate tem, que nada botei o chá na xícara, esquecí dele, depois tomei uns goles e logo espremí o saquinho quente nas mãos, para vê-lo pingar na mesa, queimar a mão, a mãe, não a mãe, não sim a mãe, sim, eu. um dia ele vai postar uma mensagem sem eu sequer ter escrito nada, podem ter certeza. o amor me incomoda tanto que eu acho que é mais pra expulgar qualquer coisa que eu ainda aguento. ainda não encontrei a paz, nem um bom advogado que me aguente, dizem por aí, mas eles também a gente se fode de qualquer jeito, eu acho, me aguentar é o xis da questão me aguentar, ame aguentar, me aguentar, tpm, invenção para explicar fenômenos de irritação frequente choro, sensibilidade, cólicasdores, e os caras ainda acreditando que te levam a algum lugar, homens me invadem. eu estou aqui escrevendo pra me segurar de não jogar todos os molhos disponíveis na parede, o molho de pimentão misturado à borra do café, a porra do café, pois e mais o chá, jogar na parede branca da sala, um dia antes das visitas virem, sim. fazer arte é um ato de coragem, atirar em sí próprio também, no outro. o outro. porque você ainda é um pouco do outro travestido de você entende? não você não entende, leia então margaret atwood, pode ser que ela escreva de forma desconexa ilógica mas é assim, eu me traduzo assim, eu não quero você eu não quero eu eu não quero ninguém e por favor você não responda, por favor, porque seu texto vai se misturar ao meu e hoje eu não quero.e tem mais ainda, sabe quando a pessoa não acabou? brava eu tudo começou assim ele não tinha nada também, uma caixa de papelão sustentava sua tv no apartamento de um dormitório que alugava para estar perto da agencia em que trabalhava, ele gaucho vindo com apenas seu desenho uma indicação e um pequena mala, ou mochila, nunca perguntei a ele, não me interessava por ele. começamos assim, igual, anos depois, vejo o mesmo se repetir, e dizem que os neuróticos repetem. Repetem para entender, você ainda um pouco como o outro começa a agilizar sua vida, tirar a caixa de papelão debaixo de uma tv e começa a pensar que um rack, talvez, não, mais, talvez um apartamento maior para acomodar minha adorada namorada. anos depois, no parque a namorada ao lado dele era outra. anos depois havia uma casa no lugar da minha. a imagem. a escrita é uma imagem, há um tamanho de bobagem que espera a sua vez pra dizer tudo, um casal no parque passeando de mãos dadas no bambuzal, a mãe na escola que o pai colocou os filhos, e você quem é, me perguntam. ta bom eu também sou uma intrusa para eles, funciona assim, é péssimo, não acreditem que escrever isso tudo vai me tornar mais sensível a você não espere por mim, eu não vou mais, só não faça chantagens, a vida não é simples, e a vida é simples, só quero ir para bem longe, atirar quantas casacas e molhos quiser na parede. vou sair comprar café, tomar um banho, atender o telefone e ser uma boa menina. toca o telefone atendo quase o ausente eu atendo a pessoa com uma voz estridente educada em excesso pergunta por mim, bem ela não é um molho e não vai para a parede um aentrevisat emprego essas coisas que a gente acha que precisa talvez eu precise de não precisar de nada só me acalmo quando ela me diz o valor hora aula o total aulas de inglês para crianças e eu jogando tudo na parede não me contratem sou uma neurótica total mas na hora do valor ah só nessa hora minha voz se tornou também delicada eu até sorrí, ao telefone, muito simpática a moça, eu pensei em seguida, como esse mundo é hilário, só faz o trabalho dela, cumpre seu emprego com dedicação e amor,quem sabe, ou apenas faz bem feito porque acredita na sua eficiência, até segunda, que ótimo, ela diz, eu me despeço aliviada e com mais uma questão a me colocar. no ar o cheiro do café, a mancha na parede. meu atelier me espera quieto. manchas gritam e pessoas falam com pudor. o horror me aguarda.madre teresa de calcutá diz que todo trabalho feito sem amor é escravidão. quero minha alforria, mas hesito demais em pedir a mim mesma.

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