quinta-feira, 4 de junho de 2009

no elevador

sobe desce sobe desce abre e fecha e abre e entra um depois o outro a gente toda se apertando toda naquele desconforto só dum espaço exíguo sem lugar pra desviar o olho, a mente e a atenção. geralmente um sorriso tenso acompanha o pensamento até o andar que ou você ou o outro sai. e tudo se esvai. e desaparece. a coisa toda se desenvolve alí mesmo. conheço um lugar, apenas um, e não posso dizer amo meu terapeuta, transferência essa coisa básica amo porque ele me traz de volta, me faz bem e é o único meu bem, nem falo sobre você para não machucar o meu coração e isso é grave se me pergunto porque é que sempre coloco outras questões que aparecem e essa ainda não daqui a um tempo quem sabe, hoje não, meu amor. não quero estragar o clima. no prédio onde faço terapia, em que uma solução singela já resolve o estar aqui com todas as minhas mazelas ao lado desse sujeito mas eu ele quero dizer nós não tinhamos combinado isso, que estariamos nesta hora juntos mas e se agora estamos e eu sou uma pessoa amável e educada devo me manter sob controle e isso me dá no nervos e o máximo de neutralidade possível numa situação em que o natural seria dizer socorro me tire daqui o labo mau a chapezinho e a vovó todos juntos aqui. e eu! nessas subidas ou descidas. aberturas programadas pelo outro, desejo adiado, sempre, e alí é o único lugar, eu digo de verdade, onde o espaço não me oprime mas conforta até, porque ele é explorado. pessoas deixam textos imagens ou recados num escaninho nestes elevadores, e isso desfaz qualquer pensamento evasivo que possa vir a acontecer ali, e deixo de lado a atenção no outro estranho para focar na mensagem que fala do estranho em todos nós, e aí o estranho se equivale, digamos assim, estamos quites eu e você e eu comigo mesma e tudo bem, saimos felizes.comprimento e tal mas é na boa, com afeto não afetação com bobeiras des[prezíveis, com falar o que não se quer dizer, agora não, isso é sincero é bom. mas no meu prédio ainda vigora a velha lei, o lugar é inóspito e nada se faz para não sê-lo. então, acontece. eu entro, ele está lá. como vai? seus olhos acesos eu queria dizer um oi formal dentro dos padrões permitidos pelo espaço e pela câmera atenta do porteiro que de dia pode se distrair quem sabe com olhar quem entra e se olha atento demais ou quem põe o dedo no nariz, puxa a calcinnha, arruma o paletó, qualquer coisa assim que fazemos, e que por ser ato falho escondemos. vermelhos, seus lábios. Muito frio? Ele pergunta. Sim, eu respondo. e disfarço, tento me lembrar do frio de ontem, de como passei o dia de blusinha, de como precisava de um abraço. Me esquenta? eu penso. ah sim, muito muito frio mesmo , demais, nem imagine me enrolei em dois cobertores, depois de horas no computador, dizia para mim. Claro, e para os meninos então, querendo me lembrar da minha função materna, eu não entendo bem, pois naquele instante seus lábios queimados de frio mais o protetor labial que havia acabado de passar nos meus, ainda umedecidos, lubrificados, me desviavam o interesse. É que eles não estão comigo, como se entregasse, passa lá em casa, hoje de noite, ou qualquer uma dessas, quem sabe, moro sozinha sabe. E ele, sim, mas para acordar ir para a escola, logo cedo. eu simplesmente concordo, sem mesmo acreditar, já que eles estudam de tarde e não precisam interromper o sono da manhã para ir à escola. mesmo assim, disse que sim, claro, afinal quem sabe um dia eles voltam a morar comigo e os acordarei num frio como desses dias, de endurecer pés e mãos. mas por enquanto trato de aquecer o coração, mas vamos lá, digo eu, um bom dia para você, até mais. até logo, ele diz.

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