segunda-feira, 29 de junho de 2009

do lar e das águas

não me tirem os afazeres que em meio a eles vou me ocupando do mundo. vou botando a roupa de molho, as louças sujas na água, a espuma e a limpidez levando um pouco de mim para um lugar mais claro e sereno, na água suja o que passou, passou, um ponto pra mim. qdo casada, a secretária dele ( aqueles que não se separaram de verdade, que mantem o rancor, como eu, falam do outro assim) ao preencher meus dados em alguma ficha lá colocou na minha profissão: do lar. Furiosa eu fiquei, acalorada discussão se fez, o marido cinicamente não entendendo a questão, que para mim era de honra, eu que havia deixado as artes para cuidar dos filhos então vía concentrado alí todo o meu dilema, o mesmo que agora enfrento
( com a ajuda de que as artes para sempre me trouxeram mais perguntas que eu podia responder, e para o marido, para quem tudo sempre fora um grande nada, ou fumaça, como recentemente ouví dizer ). E claro, dois filhos e eu o dia inteiro em casa, jamais ela suspeitaria que eu teria questões acerca do ambiente doméstico que digamos ultrapassavam as suas fronteiras. Puro preconceito meu, devia ter amado a definição e humilde entender a ignorância do outro, e sabiamente me acomodar em minha viagem pessoal. Anos depois, a secretária foi embora, ele foi embora ( com outra, claro, mais profissional) e anos depois uma ex-empregada vem me dizer que havia a suspeita de um caso entre eles, mas não sejamos tão cruéis com o moço, que até hoje, nome respeitável, nega e desconheçe todas as alternativas anteriormente citadas. E como eu perco tempo com ele, como minha vida vai escoando sem eu saber, sem graça vou desejando cada vez menos, vou precisando das horas a dois, dispenso a empregada para ser eu a dona do meu lar, então voltando à roupa e louça suja, roupas pelo cantos me fazem lembrar que preciso cuidar das coisas, as coisas que são eu mesma. em meio ao sabão da água em que vou derramando meus pensamentos tolos e sábios. meus desejos tão adiados. vou trazendo à tona meus desenhos pelo tempo. vou buscando os filhos e suas lembrancas. e vou criando um pouco daquilo que se desfaz no tempo, uma coisa qualquer.

hoje, ele vai para a flip falar em público e larga os filhos com a empregada dele, e eu aqui, sozinha, vou escrevendo uma estória que poderia ir mais longe, e se perguntando como poderia ter um fim.

e frases: mãe esse filme é muito triste, a mulher vai se deitar na cama e quando chega lá tem outra mulher deitada na cama do lado dele. meu filho sobre o filme Persépolis.

mãe, o macaco aranha tem oito patas, porque ele é um macaco aranha.

mãe, eu gosto das suas fotos. é meu filho? e qual você gostou? a do boi, mãe, como o boi se transforma em touro?


porque eu estou longe dos filhos. para cultivar dessa solidão que sempre me pertenceu.

a tristeza é mesmo justa. joão musa

Um comentário:

sinval garcia disse...

adorei seu texto pat. águas profundas!
bj.

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