segunda-feira, 9 de março de 2009

long neck, vou jogar fora você

se você existisse de verdade eu com certeza faria o papel de chata descontente. iria te odiar com muito prazer em cada um dos seus gestos, porque ele pegou a colher assim? como ele é lento! invejosos, são uns bobocas e quase todos iguais. quando uma mulher resolve pegar no pé, sabe como é. começando pelo dela, claro, quando ela se odeia por completo, e transfere isto desde a mesa que não está boa, ao ar condicionado ou à falta de, até ao garçom solícito e otário, e que num certo ponto da conversa some, é sempre assim quando a gente precisa deles eles somem, e aí, tudo em vão, a vida se torna um exercício verdadeiramente insuportável, quando nem a gente suporta a miragem de sí no espelho do banheiro mas finge que está tudo bem pra vizinha que lava as mãos, arrogante quem ela pensa que é? eu,não, parafraseando beckett. eu não. ( se fosse com alguém eu logo falaria de beckett com ar de grande inteligência, só pra mostrar o intelecto avançado, uma cultura, uma grande inteligência, como ser pedante, ah meu deus tenha piedade de nós) não mereço isso. não. então, escolho. ser só. inteiramente só. porque sozinha não dá, a gente se trai por menos tempo. tem um certo termômetro que a gente liga, e é rápido, ele funciona mesmo rápido, é objetivo, tranquilo e muito eficente, acreditem. ele diz pra gente mesmo, pára, nem pensar, assim não dá. pra que isso, porque você passaria o momento desta refeição acabando consigo própria, com a sua paz e com a do outro? uma certa inteligência se insinua e deixo de lado todos esses pensamentos inoportunos que não me deixariam se em companhia estivesse. e o problema ainda é da companhia, claro. sou assim porque me vejo representando um papel, aprendí isso espero muito desaprener. disso eu tenho medo, quando fico passiva e me vejo à mercê daquele sujeito que a gente aprendeu a reverenciar, e como odeio isto, do fundo do meu coração, fico à deriva de mim, procurando o melhor alvo, e quase sempre é o mais próximo e com certeza é o tal, o infeliz que me convidou para jantar. o problema é usar o outro, encher literalmente seu saco e esperar que ele é quem diga o tal chega, assim não dá. tem uns que não dizem nunca, escolhem a opção vingativa silenciosa, vão fazendo caveirinhas e vudus de você, e vão ficando cada vez enrustidos, mudos e desconfiados, o horror é perceber que foi você, sim, que não por acaso teriamos sido extamente nós quem haveriamos de ter cria tal monstrengo inoportuno, aquela criatura que depois passamos a não mais suportar com toda a indelideza e igual brutalidade de que somos capazes. e não quero, vou fazer isso mas não quero, juro, sou romântica demais, mas só de mentirinha, pode ser? porque se você for de verdade, meu amor, vou acabar com você, meu amor e jamais te chamarei assim, acredite.

3 comentários:

roberto disse...

deus, velho rabujo e esclerótico, não é sensível. odeia a sensibilidade. o mundo odeia pessoas sensíveis. a vida gosta de renúncia e não suporta pessoas que sentem. sentem o que ninguém percebe. e sofrem. deus faz a sensibilidade de ossos de cristal e carne de finas lâminas. mas a sensibilidade não se acovardou em seu quintal.

roberto disse...

dei um passo para dentro do quintal da sensibilidade. leveza. encanto é o mínimo, assim como tirar os sapatos para entrar nesse quintal. a vida - aquela coisa cinza - é um incômodo. Porém, era um incômodo para mim, e não para o quintal da sensibilidade. eu, que me considerava senhor do mundo, me irritava. o cheiro-verde subia pelas minhas pernas. a sensibilidade já me tomava. mas o mal-estar já estava ali, tocaiando: temos que se preparar para a sensibilidade, pois a vida/mundo é implacável; desaba como um penhasco por cima dela. ser sensível exige muito: é transpassado pela dor, dor - essa é a palavra - da vida, tentacular, invasora, invasiva, pornográfica. a sensibilidade não é ingênua. arrastada pelo asfalto, foi deixada na rua, sem uma arma sequer.

mais um passo no quintal da sensibilidade. a guerra dos pequenos gestos não está começando. está em funcionamento desde o início. os homens amam a guerra e não há perigo de paz. conquista, luta pelo território, estratégia, dominação, derrota. Quem está lá, soldado? Lilith, em seu grito primal, que na sua solidão vai para o deserto, se encontrar? aquiles, colérico, que se nega a guerrear? ou Odisseu, astuto e finória raposa, que reconsquista seu trono? não, soldado: olhe bem: um espelho, que infelizmente não é o da alice. Vê apenas a criança sem peito, que nós, homens, somos. o desmonte que a sensibilidade nos faz, para com ela sofrermos, a cada picada.

mais um passo: o quintal da sensibilidade é maior, mais profundo (e é profundo), branco e preto. tende à alma. acoada é que ela não está: mostra seus dentes de cristal e olhos de aço cirurgico; indica os sinais de parada: pare!, em neon, giz, símbolos mágicos, recados de geladeira.

mais um passo. Devo largar o que ganhei? Ora, isso não é um jogo, coisa de homem. é inegociável. ir para frente ou voltar.
andei no jardim da sensibilidade. gostei do que me tornei. gostei do jardim.

meu passeio acabou. é a vingança da sensibilidade, contra o mundo, deus e os homens.

Ah, leitor(a): o quintal da sensibilidade é uma pessoa.

roberto disse...

solidão: futuro humano
solitude: força da raça
ficar só, finalmente:
reconhecimento de toda uma vida
de tudo, eu
devo me bastar

cada um de nós
temos o melhor de nós
nos carregamos e,
como o amigo imaginário,
façamos com nosso inimigo
o melhor de nós, claro

o futuro é vortex (ou zardoz?)
o futuro é o umbigo de alguém

(mas é nele que eu não vou estar)
há uma estrada de tijolos amarelos
e um espelho
e outras tantas coisas e portas

patriciab-separação
sorte em sua carreira solo

Minha foto
são paulo, sp, Brazil

guardados

guardados