as duas crianças correndo aquelas duas crianças não paravam de correr uma atrás da outra, eu atordoada, enquanto eles corriam via que havia um série de bolsas e sacolas amararradas que eu havia colocado sobre uma mureta, e que uma pessoa estava mexendo nelas, algumas já tinham sido roubadas mas consigo pegar ao menos um no flagrante o jovem rapaz abrindo uma das minhas bolsas, no ato descarado, parado alí e mesmo me vendo, ou por isso mesmo, rindo às minhas custas, abre o que lhe pertence, domina meu pedaço, eu penso que estas crianças devem ter um mãe para olhar por elas quando finalmente eu a chamo, e eu descubro seu nome é marta, e então aparece lá do fundo da sala, saindo de outra sala, como se fosse uma sala de aula, uma figura meio neutra, escura, não a vejo muito bem, enquanto saio correndo para correr com a crianças, me esqueço da tarefa de ser esta que olha por elas e também do compromisso de parecer ser a mãe, e quando olho pela grande janela, que havia em frente ao local onde eu me postava, E O QUE ERA mar do lado de fora se torna uma água lodacenta, se esta palavra existir, um mar que vira um lodo negro e plastificado, viscoso. em outro momento as crianças correm de novo, sempre perturbando, porque fico concentrada no movimento delas na provocação que fazem entre sí e me perco de uma outra função. eu choro quando num bingo eu estou numa sala e de novo vou perdendo coisas que me pertencem, lugares que me são de direito, e as crianças correndo, brincando entre sí. há uma mulher, tipo bunduda gostosa calça justíssima para mostrar a bunda e blusinha vulgar, e eu digo, sua vaca, ela está de costas e é uma mulher que fica parada na minha frente sem fazer nada. não vê nem ouve, apenas está alí.
depois uma alternativa com a aparencia de um escape, logo se torna outro martírio. estou num lugar de carro e ao sair, vislumbro a ida para um outro lugar, uma estrada lotada de carros na hora do rush me levaria para lá, e no que desvio, percebo duas estradas de terra, rodeadas por eucalipto, uma que vai a lugar nenhum, e outra visivelmente abandonada, um homem me diz que se eu quiser entrar lá que eu sei o que vou encontrar.
eu dou o retorno, apenas percorro o início dessas estradas e me ponho a caminho de volta, e voltando me deparo com muitas outras estradas e possibilidades, das quais pego uma, também com muitos carros, mas ainda assim anônima, meio sem saber direito se estas estradas curvas escuras e baixas me levam de volta para casa. estava num estacionamento e ao sair olho para meu carro e já dentro dele, enquanto o dirigo reparo que ele foi violado, que faltam pedaços, vários componentes foram retirados, o carro está como que cheio de buracos internos, uns nos lugares dos alto falantes, outros do aparelho de som. e etc, eu estranho aquilo tudo. em algum momento fui violada, mesmo que desapercebida, me tomaram algumas partes e ficou o carro e eu assim, por mais que eu tente me preservar e que acredite estar voltando para casa.
Um comentário:
comentário verbal: de uma postagem antiga, sobre nietzche - quase um ensaio - até esse texto, elaborado/sofisticado... não quero me deixar influenciar por outros estilos, mas sua escrita está tentadora.
c.v. 2: como não tem título, mentalmente chamei de "o ataque".
c.v. 3 (em off): cortazar que se cuide.
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