segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
minha peixinha vai morrer
Os peixes de nada sabem. ela nada. seu mundo infinito limitado por vidros está se turvando. antibióticos e tratamentos adequados e enquanto isto, ela calmamente procura os movimentos ainda possíveis. sua pele vai se tornando branca e seus movimentos a cada dia menos decisivos, até mesmo para o alimento que chega em doses apropriadas. ela nada. os peixes, de nadar sabem. e eu de fora dalí, sei e observo a sua morte lenta. minha peixinha vai morrer. já podia ter escorrido a água e atirado logo esse pequeno ser para fora dalí. mas não, todos os dia ainda a alimento e a trato conforme as indicações prescritas. e não quero, juro que não quero mais, a cada dia penso em parar de alimentar essa peixinha, prefiro vê-la logo boiando inerte alí a me ver alimentando um corpo em feridas.A cada momento que passo pelo aquário, evito o olhar que procura confirmar uma pele em decomposição. Vejo a cor desbotada estéril, onde antes o brilho do azul carmim, agora um ser flagelado em brancos esmaecidos. Definitivamente, onde há a doenca, já não há mais o brilho, se foi o vigor.Minha irmã vive entre quatro paredes, num quarto escuro. Quer morrer. Eu agora entendo a eutanásia, observar a morte lenta e alimentar o sofrimento é muito mais terrível que simplesmente morrer. Por isso, quando eu for morrer, se não me for sozinha, me deixem. Me vejam simplesmente indo embora, pois quando meu corpo não estiver mais presente minha alma já estará mais longe ainda. E, se muito distante, é porque já terei vivido aquilo que quis viver.
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3 comentários:
sabado a noite, em casa, estava passando tão mal que achei que iria morrer. Essa idéia me agradou. Eram três da manhã e imagineu a realização de algo que, há algum tempo, queria: "acordar morto", por assim dizer. Quando o sol nasceu, estava olhando pela janela. Ainda vivia e, melhor, tinha algum motivo para viver (que não vou revelar). Quando estive longe, onde todos iriam me ver, bem longe e sem volta, eu mesmo quiz voltar. Foi uma alivio pensar em deixar tudo, ir até o extremo, até a terceira margem; e, estranho, foi o mesmo alívio quando, algumas horas depois, estava novamente no mundo, mesmo que me sentindo a margem dele. Que estranhas sensações são essas?
eu nao gostaria de ser sua peixinha e nem ser você, como você descreve. Não; não quero ver a peixinha morrer e nâo quero ser visto me afastando, como a fumaça do cigarro que se vai pelos dedos.
"Quem vive num mar de aflições iquais às minhas, como não há de considerar a morte lucro?", disse Antígona a Creonte, o homem que a condenava a morte, na antiga tragédia grega. Alguém, me disse o contrário, em outros termos e outra circunstância: "quem não liga para a vida e se deixa largar é, no mínimo um covarde". É a diferença: Antígona tem motivo; o outro não. Somos nós que olhamos o peixe, ou somos o peixe que olha seu próprio reflexo no aguário e, ignorante, acredita ser outro peixe. Estamos tão afastados (de nossas realizações) que esperamos outros nos verem longe quando,vemos a nós mesmos já afastados. Somos nós, tão distantes, que nem nos reconhecemos; assim como nossos desejos, nossa psiquê, está tão distante do que acabamos por nos tornar, que não percebemos ser, ali, nós mesmos? É o mito do Narciso invertido: não se reconheçe a sí, mas se admira. Não nos reconhecemos e, horrorizados, nos afastamos, esperando a morte de nossa silueta.
não te conheço, patrícia, e nem sei porque escrevi tudo isso; ou melhor, sei: primeiro, acreditei que escrevi para você ou para sua sensibilidade. Ou para sua pisiquê. Não sua mente, mas a psiquê, a personagem grega, que se casa com o cupido e tem por filha a volúpia, que deve existir em todos nós. Relendo, depois de postado, percebi que é para mim que escrevi: usei de sua tristeza (sim, pois é uma mensagem triste) para dar formato à minha; Falar (escrever) sobre tanta tristeza vai nos ajudar? Eu, em minha insônia, postando num bloog sobre o diário da separação de uma pessoa tão distante? Fazer disso arte, como o músico Arvo Part, que trancende seu mistissísmo em suas obras? Sim, exatamente isso. Transendi em sua peixinha que vai morrer num delírio de compaixão. Vivi, por um momento na sua peixinha e por outro, no seu olhar; e entrei em meu próprio mundo usando de sua sensibilidade. É realmente uma artista. Graças.
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